O ganho de peso na gravidez é um assunto que deixa muitas mulheres preocupadas e angustiadas. Com isso, muitas mulheres chegam até o meu consultório com muitos medos em relação à alimentação. Na maioria das vezes, nesse primeiro contato, eu percebo que os mitos e até mesmo o senso comum fazem com que estas gestantes adotem restrições alimentares, que muitas das vezes são desnecessárias e pouco efetivas para o controle adequado do ganho de peso.
Relatos comuns
É muito comum relatos como:
“Dra, eu adoro chocolate, mas estou deixando de comer desde que descobri a gravidez porque sei que engorda. Aí quando sinto vontade eu como aquele 70% que é mais saudável e não engorda. Mas sabe, não é a mesma coisa. Eu ainda continuo com vontade de comer o chocolate que eu gosto, e aí eu bebo água para esquecer!”
“Tem problema se eu comer só um pedacinho de pizza aos fins de semana? É só um pouquinho Dra, quando meu marido pedir para matar a minha vontade!”
“Dra e os doces? Eu não vou mais poder comer até meu bebê nascer né? Eu já engordei muito!”
“Eu adoro pão no café da manhã. Estou tentando tirar e comer só uma fruta para não engordar muito!”
“Parei de comer arroz e macarrão no jantar. Agora só como salada e legumes com um franguinho grelhado. Sei que se não for assim não vou conseguir controlar meu peso.”
Bem, esses são só alguns dos relatos que costumo ouvir durante os atendimentos. E ouvindo cada um deles, e percebendo os olhares e expressões dessas mulheres, vi como essas restrições são sofridas. Da mesma forma, fui identificando como cada uma dessas mulheres se sentem culpadas por pensarem em consumir esses alimentos popularmente classificados como “não saudáveis” na gestação.
É como se o consumo deles por si só levasse diretamente ao ganho de peso excessivo na gestação, sem levar em conta o contexto alimentar em que são inseridos.
Um novo olhar sobre como controlar o ganho de peso
Mas a questão é que essas restrições não são efetivas para o controle do ganho de peso na gestação. Pelo contrário, elas podem fazer com que haja uma vontade aumentada pelo consumo desses alimentos acompanhada de descontrole alimentar, ou seja, pode aumentar as chances de que a mulher venha a querer consumir grandes quantidades desses alimentos e com mais frequência. Isso aumenta ainda mais a culpa e faz com que ela se sinta frustrada ao “sair da dieta”.
O que é preciso entender é que o consumo desses alimentos pode e deve sim fazer parte da alimentação. A mulher não precisa deixar de consumir alimentos que gosta como chocolate, pão ou pizza com seu marido por medo de engordar na gravidez.
Esses alimentos podem ser consumidos se inseridos num contexto saudável. Ou seja, é preciso trabalhar a questão da frequência e quantidade de consumo e entender as causas de determinados comportamentos alimentares. Isso sim será mais eficaz a longo prazo do que apensas sair promovendo diversas restrições alimentares na rotina da gestante. Afinal, a gestação leva 40 semanas, ou seja, são meses seguidos e de muitas variações emocionais que certamente terão reflexo na alimentação. E isso não pode deixar de ser levado em consideração no acompanhamento nutricional ao longo da gestação.
Minha experiência
Com isso, ao longo desses anos de atendimento, fui percebendo que meu papel como nutricionista que se dedica ao cuidado específico de mulheres durante a gestação vai muito além de apenas orientar o que comer, como comer, o que pode e o que não pode.
Ter ficado grávida e vivenciar a cada dia a maternidade me fez enxergar que não basta apenas entregar as orientações nutricionais da gestação. Não basta apenas dizer “coma isso e a aquilo no café da manhã” se essa recomendação não respeitar suas preferências alimentares, sua rotina e até mesmo suas necessidades mais internas e emocionais.
Nesse sentido, acabei refletindo e vi que tenho um grande desafio pela frente: o de ajudar mulheres a se alimentar de forma adequada na gestação, mas sem deixar de lado os prazeres da alimentação. É possível sim ter um ganho de peso controlado e uma alimentação adequada sem sofrimento, julgamentos, culpa ou punições.
Para isso você só precisa ser ouvida, acolhida e cuidada por uma nutricionista que entenda a fundo as diversas questões envolvidas na gestação.