Olá! É muito comum as gestantes me perguntarem sobre alguns “tipos de dietas” e se é seguro ou não fazer elas durante a gravidez. E sem dúvidas a “dieta low carb” é a que mais gera esse questionamento. Pode ou não pode fazer? Quais os riscos? Nesse post eu trago então algumas recomendações importantes sobre a dieta low carb na gravidez, além de outros esclarecimentos sobre dietas durante essa fase.
O que é dieta low carb?
Mas você sabe o que é de fato a dieta low carb? Na verdade, ela é uma estratégia nutricional que visa a redução de peso através da restrição de carboidratos na alimentação.
A dieta low carb começou a entrar na moda com o surgimento de dietas como a do Dr. Atkins e South Beach, que utilizavam essa estratégia para perda de peso com bons resultados.
Mas o que significa restringir carboidratos?
Para um consumo saudável e que atenda às necessidades metabólicas do nosso corpo, devemos atingir algumas recomendações de ingestão de nutrientes. Essas recomendações se baseiam em porcentagens do valor energético total (VET) diário da dieta. Sendo assim, recomenda-se que, numa dieta saudável, o consumo de carboidratos se dê entre 45 a 65% do VET (1). Quando programamos valores de ingestão abaixo dessa porcentagem, estamos de certa forma fazendo restrição de carboidratos.
Com base nessa recomendação, existe alguns tipos de restrição de carboidratos, a depender do objetivo individual de cada um. Vejamos a seguir:
- Muito baixo em carboidratos: quando a restrição se dá em valores menores que 10% VET
- Baixo em carboidratos: restrição menor que 26% do VET
- Restrição moderada: quantidade de carboidratos que atinjam valores entre 26 e 44% do VET
Para atingir esses valores de restrição, os alimentos que contém carboidratos em sua composição são reduzidos ou excluídos do plano alimentar. Dentre eles podemos citar: pães, massas, bolos e farinhas de um modo geral, como tapioca e cuscuz. Em alguns programas dietéticos, alimentos como as frutas e legumes, que naturalmente contém carboidratos, também são limitados.
Em contrapartida, a dieta tem o consumo aumentado de alimentos proteicos como carnes e ovos, além de fontes de gorduras. (2)
Efeitos da restrição de carboidratos na saúde
Insulina e perda de peso
A redução de carboidratos na alimentação promove alterações metabólicas, sendo a principal delas a redução dos níveis de insulina no sangue. A insulina é um hormônio responsável pelo metabolismo de glicose, substância que aumenta no sangue assim que nos alimentamos com fontes de carboidratos. Esse hormônio é considerado anabólico pois é responsável por promover estoque de gordura e com isso ganho de peso. Ao controlar a quantidade de carboidratos na alimentação, reduzimos os níveis de insulina no corpo. Isso auxilia na perda de peso.
Além disso, a perda de peso também é um resultado natural da redução da ingestão de calorias provenientes dos alimentos ricos em carboidratos, que são limitados no plano alimentar.
Alterações no colesterol
Algumas estratégias low carb consistem em substituir fontes alimentares de carboidratos simples como doces, açúcares, pães, massas etc., por fontes de carboidratos complexos e fibras como cereais integrais e sementes. As fibras exercem papel fundamental no controle do colesterol LDL e triglicerídeos no sangue, reduzindo assim os riscos à saúde.
Mas por outro lado, se o consumo de alimentos ricos em gordura não for feito com atenção, ou seja, se as fontes de gordura da dieta não forem saudáveis, pode haver o efeito contrário como o aumento do colesterol, o que eleva o risco para doenças cardiovasculares.
Melhora da função intestinal
O consumo aumentado de fibras na alimentação irá auxiliar no funcionamento intestinal, prevenindo ou controlando a prisão de ventre.
Riscos da dieta low carb na gravidez
Mas quando se trata de gravidez é preciso uma atenção maior para qualquer tipo de restrição dietética. Isso porque a gestação é um momento onde a oferta de nutrientes deve ser adequada para permitir a manutenção de uma boa saúde materna e o crescimento e desenvolvimento adequado do bebê.
Dessa forma, não é o momento para se optar por realizar dietas restritivas visando o controle de peso na gravidez.
Importância dos carboidratos na gravidez
O carboidrato pode ser encontrado em uma variedade de alimentos, como por exemplo: frutas, pães, biscoitos, massas, cereais, tubérculos e raízes. Esse macronutriente é fundamental para o fornecimento de energia sob a forma de glicose para a mãe e principalmente para o bebê. Durante a gestação, o bebê utiliza a glicose como sua principal fonte de energia para seu crescimento e desenvolvimento. Sendo assim, para atender as necessidades fetais de consumo contínuo de glicose na gestação, ocorrem diversas alterações no organismo materno. Essas modificações ocorrem para permitir que esse carboidrato vindo da alimentação esteja sempre disponível para o bebê. Assim, uma dieta na gravidez deve conter quantidades adequadas de carboidratos.
Uma dieta low carb na gravidez pode piorar sintomas como enjoos e tonteiras que são relacionados à hipoglicemia materna. Além disso, estudos já mostraram que restrições de carboidratos na alimentação materna pode fazer com que os bebês nasçam com baixo peso e com prejuízos no seu desenvolvimento. (3)
Por isso, precisamos atingir as recomendações de ingestão normal de carboidratos na gestação.
Restrição de carboidratos e deficiência de ácido fólico
No Brasil, após a publicação de uma resolução da ANVISA feita em 2002, todas as farinhas de trigo e de milho produzidas e comercializadas no país devem ser obrigatoriamente enriquecidas com ferro e ácido fólico.
Trata-se de uma estratégia do Ministério da Saúde para a diminuição da incidência de anemia e de doenças relacionadas à problemas no fechamento do tubo neural, como espinha bífida e anencefalia, relacionadas à deficiência do consumo de ácido fólico na alimentação da gestante.
E essa estratégia de fortificação com ácido fólico já trouxe importantes resultados, uma vez que houve redução significativa (cerca de 30%) na prevalência de doenças do tubo neural em bebês nascidos em algumas regiões do país, como a Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Em contrapartida, recentemente um estudo americano avaliou a relação entre o consumo de dietas low carb na gravidez e o aumento do risco de defeitos no tubo neural de bebês.
Como conclusão, eles viram que mulheres que faziam restrição de carboidrato na alimentação, ainda no ano anterior à concepção, tiveram maior risco de o feto apresentar defeitos no tubo neural. Os autores também perceberam que mesmo o uso de suplementação de ácido fólico não foi capaz de reduzir esse risco. (4)
Isso tudo demonstra que qualquer estratégia alimentar durante a gestação deve ser feita sob supervisão e orientação adequada.
Gestantes diabéticas
Em mulheres grávidas com diabetes, o acompanhamento nutricional é de fundamental importância, sendo a estratégia primária para o controle dos níveis de glicose no sangue. Recomenda-se que todas as gestantes com diagnóstico de diabetes na gestação recebam aconselhamento nutricional específico, sempre que possível.
O tratamento irá se basear no controle dietético que tem como objetivo garantir os nutrientes necessários para a saúde da mãe e para o bom desenvolvimento do bebê, além de controlar o ganho de peso durante todo o período.
Apesar dos carboidratos terem relação direta com o controle da glicose e insulina no sangue, não há recomendação para que se faça a restrição excessiva no consumo alimentar desse nutriente em gestantes diabéticas.
De acordo com a Associação Americana de Diabetes (ADA), dietas low carb na gravidez não devem ser realizadas em gestantes diabéticas com o objetivo de controlar os níveis de glicose no sangue. Isso porque esse padrão dietético está relacionado a efeitos prejudiciais no bebê. (6)
O recomendado é realizar trocas saudáveis nas fontes de carboidratos. Por exemplo, privilegiando o consumo de fibras e carboidratos complexos em detrimento de açúcares e carboidratos simples, que apresentam relação direta com o aumento dos níveis de glicose no sangue. Além disso, deve ser feita a avaliação do consumo alimentar, com o objetivo de adequar a ingestão de carboidratos nos valores da recomendação diária. (5; 6)
Dieta na gravidez: como fazer para não ganhar mais peso do que precisa
Primeiro é importante saber que a recomendação de ganho de peso não é a mesma para todas as gestantes. Por tanto, não existe uma quantidade exata de peso que se deve ganhar ao longo da gestação. O planejamento do ganho de peso ao longo da gestação é feito com base em diversos fatores e um deles é o estado nutricional que a mulher inicia a gravidez, ou seja, se a gestante inicia com baixo peso, peso adequado ou sobrepeso e obesidade. Com base nessa avaliação, é traçado a faixa de recomendação individual de ganho de peso e a gestante é acompanhada quanto à adequação do ganho de peso por semana gestacional. (7)
Portanto, ao descobrir a gravidez é muito importante buscar ajuda profissional para que não sejam feitas restrições desnecessárias na alimentação, e o ganho de peso seja controlado de forma saudável, sem prejuízos ao aproveitamento nutricional da mãe e do bebê.
Veja como algumas mudanças na alimentação podem te ajudar a controlar o ganho de peso:
1 – Consuma com moderação alimentos fontes de açúcares simples
O carboidrato presente em alimentos como pães brancos, massas, bolos, tortas, biscoitos, doces, chocolates etc., é de fácil digestão e metabolização, e quando consumidos em excesso contribuem para o descontrole no ganho de peso.
2 – Consuma preferencialmente alimentos fonte de fibras
A fibra é um nutriente que dá saciedade ao corpo, e com isso nos ajuda a controlar a quantidade de alimentos ingeridos ao longo do dia. Por isso, devemos consumir mais alimentos integrais, dentre eles os cereais e farinhas integrais. As frutas, folhas e legumes também são excelentes fontes de fibras e por isso devem estar presentes e distribuídas na alimentação diária.
3 – Reduza o consumo de fast foods e alimentos industrializados e ultraprocessados
O consumo frequente de lanches rápidos e de comida pronta, congelada e industrializada contribui para o excesso de peso na gestação.
4 – Retome o hábito de cozinhar e preparar as refeições em casa
Sabemos que o principal fator que leva ao consumo de fast foods e alimentos industrializados e prontos para o consumo, é a falta de tempo e a rotina que é cada vez mais corrida. Falta tempo e disposição para cozinhar e com isso acabamos recorrendo a essas alternativas “mais práticas”.
Mas cozinhar não precisa ser um fardo. Havendo planejamento e utilizando receitas simples é possível consumir os alimentos naturais sem perder o sabor.
A alimentação caseira feita com ingredientes naturais é a melhor aliada no controle do ganho de peso e na promoção da saúde da mãe e do bebê.
E não se esqueça de procurar um nutricionista em casos de dúvidas ou dificuldades com a alimentação. Fazer uma dieta low carb na sua gravidez, sem orientações, não é a melhor saída.
Até a próxima!
Referências
1 – Trumbo P, Schlicker S, Yates AA, Poos M., Food and Nutrition Board of the Institute of Medicine, The National Academies. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein and amino acids. J Am Diet Assoc. 2002 Nov;102(11):1621-30 (PubMed)
2 – Robert Oh; Kalyan R. Uppaluri. StatPearls Publishing LLC. Low Carbohydrate Diet. 2019. (PubMed)
3 – Elizabeth Accioly – Cláudia Saunders – Elisa Maria de Aquino Lacerda. Livro: Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Cultura Médica, Rio de Janeiro, 2009
4 – Desrosiers TA, Siega-Riz AM, Mosley BS, Meyer RE, National Birth Defects Prevention Study. Low carbohydrate diets may increase risk of neural tube defects. Birth Defects Research. 2018; 110:901–909. (PubMed)
5 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Princípios para orientação nutricional no diabetes mellitus. in: Diretrizes da sociedade brasileira de diabetes 2014-2015. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Diabetes e Editora Guanabara Koogan, 2014-2015 p. 19-41.
6 – American Diabetes Association. Nutrition recommendations and interventions for diabetes. Diabetes Care. 2008 (PubMed)
7 – Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012
Olá! estou feliz por achar seus artigos, quanta informações legais, que bom que está compartilhando, parabens.